A Gibson Les Paul Standard
Sunburst original de 1959 é considerada por músicos e colecionadores como a
mais desejada guitarra elétrica já criada. É difícil achar palavras para descrever o que de fato aconteceu em 59 quando os melhores elementos se juntaram para fazer
este design se tornar o que algumas pessoas consideram a "guitarra definitiva”.
O vídeo abaixo mostra o
depoimento de músicos e especialistas sobre a “mágica” que ronda essa guitarra.
Se vocês puderem reparar aos 0:17
do vídeo uma guitarra Gibson Les Paul sunburst em 1959 custava U$ 275,00
(duzentos e setenta e cinco dólares) e conforme dito no vídeo, se você for até o sotão da sua casa,
achar um case marrom como aquele e uma velha guitarra como aquela ali dentro
você pode estar U$ 400.000 (quatrocentos mil dólares) mais rico. E vale muito a
pena comentar que este vídeo é de 2007, o valor da guitarra hoje chega aos U$
750.000 (setecentos e cinquenta mil dólares).
Foram feitas cerca de 1600 (mil e
seiscentas) Les Pauls em 1959. Tirando as que estão nas mãos de músicos famosos
e colecionadores, os pesquisadores das guitarras já chegaram a conclusão que
cerca de 1.000 destas Les Pauls não são mais possíveis de serem rastreadas; estão provavelmente destruídas e perdidas para sempre, ou ainda podem estar em
sótãos, porões e garagens do mundo inteiro.
Entre os colecionadores, o
consenso é geral de que não vai demorar muito para que uma Les Paul 1959 atinja
o valor de 1 milhão de dólares !!! Esta possibilidade inclusive é tema do livro
“Million Dollar Les Paul” de Tony Bacon que temos aqui na loja e no qual
baseamos muito da nossa pesquisa para este post.
Um case como esse pode guardar dentro dele uma grande
preciosidade
Ainda no vídeo, podemos ver a
extrema devoção de alguns músicos à Les Paul, antes de qualquer outro, vemos o
próprio Les Paul dizendo que não tem nada que ele não goste nesta guitarra,
ela é como se fosse o seu cachorro, seu melhor amigo. Slash comenta que dorme
com a Les Paul do lado da cama, seja em casa ou em hotéis, e não tem um dia em
que não acorde pensando em como a guitarra é maravilhosa. Billy Gibbons do ZZ
Top diz que a Les Paul realmente moldou o som pelo qual a banda ficou conhecida
e ele acha importante dar todo o crédito possível a este instrumento.
Slash também comenta o fato de
que ele, por ser, um cara “da antiga” sempre foi apaixonado por Les Pauls, e na
época da ascensão do Guns n’ Roses ao sucesso ele era talvez o único cara que
estava usando uma destas que guitarras, uma vez que o modelo estava um pouco fora de moda
no final dos anos 80 e começo dos 90.
Segundo o relato do colecionador
Ronny Proler mostrado no vídeo outro fator que torna a 1959 tão especial é o
tampo em Maple, pois nenhum deles é igual ao outro, todos são diferentes e é
como se cada guitarra tivesse uma impressão digital.
A Les Paul, desde que foi lançada
em 1952 sofreu algumas alterações que fizeram dela a guitarra que era em 59 e
continuou sendo até hoje; primeiro a ponte Wraparound foi trocada pela
tune-o-matic em 55, em 57 apareceram os captadores humbuckers e no final de
1958 o toque final: a pintura sunburst!
A pintura sunburst era muito
comum para a Gibson na época que já usava este padrão nos seus violões, e
segundo o relato do ex-presidente da Gibson Ted MCcarthy publicado no prefácio
do livro “The Beauty of the Burst” de Yasuhiko Iwanade o primeiro protótipo da
Les Paul era na cor sunburst e foi o guitarrista que deu nome a guitarra Lester
William Polfus (Les Paul) quem sugeriu que o acabamento fosse dourado na época
(a famosa gold top).
Ao retornar ao sunburst em 1958 a Les Paul
estava pronta para conquistar o mundo e foi pouco a pouco caindo no gosto de
diversos guitarristas e que hoje são ícones da música como, Keith Richards, Eric
Clapton, Billy Gibbons, Paul Mccartney e muitos outros, o que ajudou a aumentar
o vínculo que o público sentia com aquela guitarra.
Keith Richards
Billy Gibbons
Eric Clapton
Um dos músicos que mais ajudaram
a construir o mito que é a Les Paul 59 com certeza é Jimmy Page que construiu
quase toda a sua carreira com o Led Zeppelin em cima do som matador da Les
Paul. Mas vamos falar mais especificamente de Jimmy Page um pouquinho mais a
frente.
O vídeo abaixo é uma rara
oportunidade de ver uma Les Paul 59 original em todos os seus detalhes, o dono
desta guitarra não é ninguém menos do que Larry Dimarzio, criador da Dimarzio
Pickups.
Larry Dimarzio mostra duas
curiosidades muito interessantes sobre a guitarra, uma é sobre os captadores; a
Gibson lançava os captadores todos com nickel cover (capa) e alguns músicos nos
anos 60 descobriram que se tirando a capa deixava-se o captador com um timbre
mais “ardido”, ou seja, um pouco mais agudo e mais agressivo.
Abaixo do nickel cover os
captadores tinham o seu acabamento plástico todo preto. Segundo o livro “The
Beauty of the Burst”, em 1958 o fornecedor de plástico da Gibson fez uma
ligação dizendo que estava sem estoque
do plástico preto e perguntou se poderia mandar um plástico creme no lugar; uma
vez que eles ficariam escondidos em baixo da capa, os engenheiros da Gibson não
viram problema em mudar a cor, e esta nova remessa de capas creme foi misturada
com algumas sobras que a fábrica tinha do plástico preto criando o captador que
ficou conhecido como Zebra. Ao retirar a capa os músicos ficaram impressionados
com como a guitarra ficava bonita assim e segundo alguns, soava melhor.
Esta característica ajuda aos
peritos a determinar o ano da guitarra; alguns dos antigos zebra, hoje já
ficaram completamente desbotados e todos brancos, são os chamados “Double
whites”
A outra curiosidade é sobre a
pintura, que ele mostra abaixo do pickguard a pintura original cherry sunburst.
O efeito de degradação natural
que estas guitarras sofreram ao longo dos anos e o desbotamento do Cherry
sunburst natural criou uma série de novos padrões de cores que hoje são
reproduzidos por diversas empresas, inclusive a Gibson, como o Honeyburst,
Teaburst e Lemon Drop. O estudo dessas cores se tornou uma especialidade própia
e é o tema do livro “The Beauty of the Burst” de Yasuhiko Iwanade.
Todo o interesse que a Les Paul
1959 gera entre músicos, colecionadores e apaixonados da guitarra fizeram com
que a Gibson se dedicasse a entrar fundo na pesquisa destes modelos na
tentativa de recriar a mágica de 1959.
A pessoa responsável por esta
pesquisa é Edwin Wilson, historic manager que ao longo dos anos já visitou e
revisitou dezenas de músicos e colecionadores e avaliou minuciosamente cada uma de suas guitarras. Por conta de suas pesquisas a
Gibson pode colocar no mercado diversos relançamentos como a série Collectors
Choice, a Paul Kossof 1959 Les Paul Standard, a Billy Gibbons “Pearly Gates” e
as famosíssimas Les Paul Jimmy Page “Number One” e “Number Two”.
Beto Laureano &
Edwin Wilson
Antes de entrar na história de Edwin Wilson vamos abrir um parênteses para o relato do Prof. Beto sobre seu encontro com este pesquisador das guitarras.
“Estava eu na fábrica da Gibson
Custon algo inacreditável até hj, quando ouvi aquele nome "Ed Wilson"
pensei...impossível ser ele!?!? O abordei assim que tive chance quando ele
falava para nosso grupo sobre madeiras e perguntei: Você não é o cara do livro "The Million Dollar Les
Paul" que mexeu na guitarra do jimmy page ? ele sorriu sem graça e disse
"Yes, it´s me" ( Sim, sou eu ). Quando ele confirmou foi demais,
fazendo mais especial ainda aquele momento!!!"
Edwin Wilson tem uma história
curiosa; como Historic Manager da Gibson ele é responsável por estudar os
modelos mais antigos e está acostumado a tomar um cuidado extremo com os
instrumentos que manuseia da mesma forma que historiadores têm com peças de
museu, uma vez que os donos desses instrumentos chegam a ser neuróticos com a
preciosidade que tem nas mãos. Isso até ele visitar Jimmy Page; Edwin estava
prestes a ter nas mãos uma guitarra que não só é rara por ser uma 59, mas que
pertenceu e moldou a carreira de um dos músicos mais fantásticos de todos os
tempos. A Jimmy Page Les Paul “ Number One”
Foto da Les Paul
Jimmy Page “Number One” original
Edwin diz: “Bom, eu
preciso começar, devo usar luvas ?”
E Jimmy Page
responde: “Não, tá tudo bem”
E Edwin continua: ”Eu
posso puxar pra fora os captadores?”
E Jimmy Page com a sua
tranquilidade natural diz:
“Pode tirar, faz o que quiser”
Visualização interna
do captador de uma 1959, esta não é a de Jimmy Page
Wilson ficou surpreso e feliz com
isso, e por causa dessa atitude ele acabou descobrindo o que faz da Les Paul de
Jimmy Page a guitarra mais legal de todos os tempos, é que o músico que a
empunha sabe muito bem o que ela é, Jimmy Page sabe que a guitarra é uma
ferramenta para ele, não é uma coisa que ele pendura na parede, ele se expressa
e se relaciona com aquela guitarra e isso faz dela única por que ela tem uma
história.
Essa história curiosa é narrada na introdução do
livro “Million Dollar Les Paul – In Search of the most valuable guitar in the
world” de Tony Bacon. Depois desse encontro
e de muitos outros a Gibson Custom Shop lançou réplicas perfeitas de algumas
guitarras de Jimmy como a “Number One” e a “Number Two” cuja original é uma
1959 que foi modificada pelo próprio Jimmy Page.
Gibson Custom Shop Les Paul Jimmy Page “Number
Two”
E não é só Jimmy
Page que tem uma carreira toda construída em conjunto com uma Les Paul 1959. No
vídeo abaixo o guitarrista original do Whitesnake Bernie Mardsen mostra a sua
Les Paul 1959 carinhosamente apelidada de “The beast” e que o acompanhou em toda
a sua carreira.
Bernie
conta no vídeo que ele tem esta guitarra desde 1974 quando um cara que havia
produzido um show no The Marquee onde ele estava tocando afinou a guitarra;
entregou na mão dele e disse, “usa ela no bis”..., de cara Bernie já disse que
não podia pagar mas mesmo assim ele ligou a guitarra e ela era estupenda;
quando Bernie saiu do palco ele perguntou pro cara " Quanto você quer
mesmo por ela?" e o cara queria bastante dinheiro, cerca de 600 libras.
Ele
acabou fazendo um trato com o cara, perdeu algumas guitarras que ele gostava
muito na época, mas olhando pra trás agora ele ainda acha que fez um bom
negócio.
A
primeira vez que ele usou esta guitarra profissionalmente foi com a banda Wild
Turkey, e a primeira vez que apareceu com ela na Tv com ela foi com Cozy Powell.
Esta
guitarra aparece nos vídeos do Whitesnake e em todas as músicas que ele gravou
com a banda, e mais, ele cômpos o clássico "Here I go again" com esta
guitarra.
Bernie Mardsen com a The Beast
nos tempos do Whitesnake
Ou
seja, a “The Beast” tem uma ligação extremamente forte com toda a sua carreira
profisional.
Segundo
Bernie, não existe muito o que dizer sobre esta guitarra, ela é o que é, nas
palavras de Joe Bonamassa: "essa guitarra é doente" e Bernie conta
que em 2011 ele deixou Joe Bonamassa tocar essa Les Paul num show em
Hammersmith e foi a primeira vez que ele a ouviu no palco sem que ele estivesse
tocando e essa experiência fez com que ele concluísse o que várias pessoas já
diziam a anos de que a "The Beast" é realmente excepcional.
E
essa é uma guitarra com muita história, ele diz, Gary Moore uma vez pediu a
guitarra "emprestada, Bernie disse não porque sabia que ela não ia voltar,
brinca.
Uma
vez Jeff Beck tocou essa guitarra num camarim, "muito melhor do que eu
" diz Bernie e ainda complementa brincando que “isso é coisa que não se
esquece”. Steve Lukather tocou esta guitarra, entre muitos outros diz ele.
E
finaliza dizendo esta guitarra foi onipresente em toda a sua carreira, desde
que ela chegou as suas mãos em 1974, nunca mais saiu.
E
a história da 59 não para por aí, existem dezenas de outras peças que criaram a
sua própria fama como a guitarra de Billy Gibbons do ZZ Top chamada de “Pearly
Gates” da qual a Gibson fez também uma réplica.
Um
dos mais recentes lançamentos de réplicas da Gibson é a 1959 Joe Perry Les Paul
Foto da Les
Paul de Joe Perry original tirada do livro “The Beauty of the Burst”
Dentre todas as grandes 1959 Standards originais que estão por aí
– e não são muitas – a Les Paul de Joe Perry já foi, a um bom tempo,
considerada uma das melhores. Esta guitarra de número de série 9-0663 parece
que ficou ainda melhor com a experiência acumulada em anos de shows e
gravações.
E tão impressionante quanto o timbre é a história das idas e
vindas desta guitarra pelas mãos de Joe Perry . Slash, Billy Loosigian e Eric
Johnson, todos já foram donos da 9-0663 ao longo dos anos dando voltas que
seguiam os altos e baixos da carreira do Aerosmith. Uma vez que Joe Perry
decidiu retomar a sua mais amada guitarra, foram anos de busca, vários
telefonemas e muitos “quase”,ele conseguiu finalmente que a guitarra retornasse
as suas mãos.
Réplica
custom shop da Les Paul 1959 Joe Perry
Uma curiosidade muito importante sobre esta guitarra é que no
período em que esteve nas mãos de Slash o guitarrista a usou para gravar a
épica cena do solo no clipe de “November Rain” no deserto.
Reparem no desgastado abaixo do knob de volume
A
edição limitada Custom Shop Les Paul Joe Perry consiste de 50 guitarras
envelhecidas e assinadas pelo artista, 100 guitarras envelhecidas e 150 com o
acabamento VOS da Gibson.
Slash
conferindo as réplicas assinadas por Joe Perry no showroom Gibson de Beverly
Hills
A 1959 é sem dúvida nenhuma a
guitarra mais visada de todas as vintage, muitos músicos e colecionadores têm a
cada ano que passa reconhecido o valor e a mágica das 1959 enquanto as
originais que restam vêem os seus preços subirem cada vez mais. Pelo seu valor histórico, ela é o marco na evolução das
les paul, tanto que pouca coisa mudou, pela pouca quantidade de guitarras
inteiras disponiveis hoje não há duvida que essas guitarras alcançarão o valor
de um milhão de dolares, algumas delas como as supracitadas valem muito mais do
que isso!