A Barramusic teve a
honra de receber a visita de Victor Larica, baixista da lendária
banda “O Faia” que fez história no rock psicodélico na década
de 70. O Victor chegou na loja, interessado em testar algum modelos
de contrabaixos. Até ai tudo bem, um cliente como qualquer outro,
trocando ideias sobre música e instrumentos musicais. Em uma dessa
dessas visitas, mais à vontade com o ambiente, Victor nos contou com
um grande entusiasmo histórias incríveis, entre elas um destaque
para os momentos em que compuseram ao lado de Raul Seixas, que também
produziu “O Faia” por algum tempo. Pois bem, na matéria abaixo
Victor nos contará algumas histórias que, com certeza mudou o rumo
da música no Brasil.
1- Como foi o começo
de sua carreira musical na década de 60?
Victor Larica-
Naquele tempo a mentalidade da geração dos meus pais era ver os
filhos estudando numa faculdade nem que fosse para depois pendurar o
diploma na parede. Lá em casa tínhamos um piano de cauda onde eu
tentava extravasar a minha criatividade. Eu sempre achei que seria um
arquiteto, mas a faculdade era muito ruim. O chamado da música
gritou mais forte, então botei o pé na estrada. Meus pais não me
deram nenhum apoio e tive que comer muita poeira para adquirir algum
conhecimento. No início praticamente fui um autodidata, Comecei a
tocar violão e transportava para o piano os acordes que aprendia.
Foi tocando contrabaixo que eu me lancei profissionalmente na música.
2- Quais foram suas
principais influências musicais nesta época?
Victor Larica-
Primeiramente foi o rádio. Na hora de dormir eu e meu irmão
competíamos para ver quem acertava o nome dos interpretes das
músicas que tocavam na rádio JB. Até que vieram os Beatles e os
Stones. Bateu de primeira.
3- Como surgiu a
banda O Faia?
Victor Larica- Pois
é, a maior influência que tive dos Beatles foi o estímulo para
começar a compor. Exatamente como fizeram os Mutantes. “O Faia”
veio na cola deles... Ah! No ano passado gravamos um disco com
produção do Cláudio Araújo que já está mixado. Deve ser lançado
nesse ano.
4- Qual foi o impacto
de Raul Seixas em sua carreia e vice-versa?
Victor Larica- Eu
namorava a prima do Raul quando ele veio da Bahia pra morar no Rio.
Ele arranjou um trabalho de produtor musical na CBS, se não me
engano através da amizade que fez com o Leno, da dupla Leno e
Lilian, e o com o Jerry Adriani. Todos os dias ele trazia um monte de
LPs pra dar pro irmão da minha namorada que compartilhava com a
galera.
5- A audição em
primeira mão “Ouro de Tolo”.
Victor Larica- O
Raul ligou pro Cláudio Araújo convidando a gente pra fazer uma
passeata na Rua do Ouvidor, no centro do Rio, bem na hora do almoço.
A Globo e a Bandeirantes iam filmar. O ponto de encontro foi na Av.
Rio Branco, em frente à estátua do menino jornaleiro. Ali mesmo o
Raul mostrou os acordes do Ouro de Tolo. Foi uma confusão danada...
Muito divertido! Depois fomos pra Polygram ouvir o disco, que estava
quase pronto.
6- Participação em
As Minas do Rei Salomão e Cachorro Urubu.
Victor Larica- O
primeiro impacto foi a Mosca na Sopa, os caras acertaram em cheio!
Seria um sucesso além do Ouro de Tolo... Mas o Raul não estava
gostando dessas duas que você citou. Então ele chamou a gente pra
almoçar num restaurante que ficava embaixo do prédio onde ele
morava. Passamos a tarde toda fazendo os arranjos. Que eu saiba, foi
a única vez em que ele gravou violão. Eu toquei baixo, piano e
acordeão e o Cláudio tocou violão. Fizemos também os backings
vocais. Como a capa do disco já estava pronta, infelizmente não
saíram nossos créditos.
7- “Tem piranha na
Lagoa”.
Victor Larica- Um dia
nós saímos pra tentar alugar um teatro. E conhecemos o Nestor de
Montemar, que era o produtor da peça Tem Piranha na Lagoa. Ele nos
apresentou ao Zé Rodrix que nos convidou pra tocar no espetáculo.
Nos dias de folga fazíamos nosso rock and roll.
8- Como encararam
repressão e censura?
Victor Larica- Eu
acho que depois de 500 anos de invasão europeia, junto com a vinda
dos africanos as Américas desenvolveram uma riqueza enorme, cada
país com sua identidade, por causa das misturas culturais. Isso
assustou os políticos, militares e conservadores que não souberam
beber nessas fontes. E hoje também não sabem compartilhar, haja
vista que a repressão das autoridades se transformou num mar de
corrupção, na imensa desigualdade social, e na falta de
investimentos na educação, saúde e cultura. Na época das
ditaduras, a violência era tão explícita quanto hoje, só que nós
éramos mais criativos porque ainda tínhamos esperança de fazermos
um mundo melhor.
9- Imaginamos que não
faltaram situações inusitadas trazidas automaticamente pelo estilo
de vida de uma banda de rock naquela época.
Victor
Larica- Naquela época éramos muito jovens e houve no mundo inteiro
um clamor pela paz e liberdade. Éramos felizes e sabíamos disso.
10- Apesar de
intensa, a banda teve uma atuação relativamente curta. Houve o
devido reconhecimento da banda ou existe a sensação que deveria ter
tido uma maior valorização.
Victor Larica- Ah! Se
tivéssemos inventado a Internet naquela época...
11- Atualmente como é
a relação como os músicos e produtores que trabalharam com você
naquela época?
Victor Larica- Apesar
do delírio das grandes gravadoras somos saudosistas, e temos muitas
histórias pra contar.
Valeu, Fernando ...
Eu agradeço a vocês pelo convite e pela boa vontade. O ambiente da
loja é bem descontraído.
Abaixo algumas
imagens retiradas da página do Facebook da banda O Faia.
A Barramusic teve a honra de receber a visita de Victor Larica, baixista da lendária banda “O Faia” que fez história no rock psicodélico na década de 70. O Victor chegou na loja, interessado em testar algum modelos de contrabaixos. Até ai tudo bem, um cliente como qualquer outro, trocando ideias sobre música e instrumentos musicais. Em uma dessa dessas visitas, mais à vontade com o ambiente, Victor nos contou com um grande entusiasmo histórias incríveis, entre elas um destaque para os momentos em que compuseram ao lado de Raul Seixas, que também produziu “O Faia” por algum tempo. Pois bem, na matéria abaixo Victor nos contará algumas histórias que, com certeza mudou o rumo da música no Brasil.
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