A
primeira música da sua vida você não ouve, é o autor. E a berra a plenos
pulmões, literalmente, para uma plateia embevecida, composta por sua mãe, seu
pai e a equipe responsável pelo seu parto. Risos, lágrimas e a sensação de
dever cumprido se misturam na audiência. Mesmo sem saber, você provocou
sentimentos diferentes, e o seu choro de recém-nascido teve, para os que
testemunharam a sua chegado ao mundo, os mais variados significados. Como todo
som, como toda música.
Música pode ser teoria,
história, harmonia, matemática, física, escala, tons, semitons. Mas é,
principalmente e antes de tudo, sentimento. E significado. A mesma melodia pode
provocar euforia e melancolia, alegria e tristeza, em pessoas diferentes. Por
quê? Alguns já tentaram explicar: “A música exprime a mais alta filosofia numa
linguagem que a razão não compreende”, disse Schopenhauer; ou “Depois do
silêncio, o que mais se aproxima de expressar o inexprimível é a música”,
sentenciou Aldous Huxley; e ainda “A música é o vínculo que une a vida do
espírito à vida dos sentidos. A melodia é a vida sensível da poesia”, escreveu
ninguém menos que Ludwig van Beethoven, um dos maiores compositores de todos os
tempos.
Um dos maiores compositores
para quem? Muitos podem passar a vida inteira sem ouvir uma única música ou sem
conhecer o próprio Beethoven e, mesmo assim, ter uma relação intensa e
apaixonada com a música de outros autores, eruditos ou populares, clássicos ou contemporâneos,
cults ou bregas. Ressalte-se que não
pretendemos diminuir o talento ou a importância do compositor alemão para a
história da música. O ponto aqui é que, por maior que seja a sua obra, ela pode
não significar absolutamente nada para muita gente. Simples assim.
Buchecha
sem Claudinho, Star Wars sem John Williams
De
origem grega, a palavra música vem de musiké téchne, a arte das
musas, e pode ser definida como uma sucessão de sons entremeados por curtos
períodos de silêncio, organizada ao longo de um determinado período de tempo. O
choro do recém-nascido cabe nesta definição, um solo de guitarra de Eric
Clapton também. Duvido que alguém vá se lembrar disso na próxima vez em que
ouvir “Layla”, “Bad Love” ou “Tears in Heaven”, mas tenho certeza de que poucos
ficarão indiferentes à emoção que estas músicas provocam.
Em
outubro se comemora, no primeiro dia do mês, o Dia Internacional da Música. Não
faltam motivos para celebrar a data. A
música transcende, transforma, aviva. Com música, um ambiente inóspito se torna
um lugar aconchegante; uma festa monótona em pouco tempo se anima; o
recolhimento se transforma em alegria; a depressão abre espaço para a luz. Uma
melodia também pode evocar recordações tristes, mas, em última instância, é
mais uma prova de que música é vida, e vida é sentimento.
Pense
no Maracanã sem o coro das torcidas. Imagine Star Wars sem a
trilha de John Williams. Uma
Floresta sem o canto dos pássaros. Um namoro sem “a nossa música”. Um casamento
sem a marcha nupcial. Uma missa sem os cânticos.
O
filme “Um lugar silencioso” (A quiet place), exibido recentemente, mostra um
futuro distópico em que uma família tem que se proteger de criaturas
monstruosas que são atraídas pelo som, qualquer som. Numa das cenas mais
tocantes do longa, o casal dança com um fone de ouvido compartilhado para que a
música não vaze. Por alguns minutos, o terror dá lugar ao romance, o medo se
transmuta em cumplicidade, o isolamento é esquecido. Confesso que não me lembro
da música que eles ouvem. Mas não me esqueço do que a cena significa: com música,
a vida volta ao normal. Ou, simplesmente: a vida volta.
Por falar
em vida normal, em março do ano passado, frente às notícias que mostravam as
dificuldades financeiras do Grupo Gibson e a queda das importações dos
instrumentos de cordas, muitas pessoas ligadas ao mercado musical temeram pelo
pior, como o fechamento de lojas e outras consequências. A BarraMusic (barramusic.com.br)foi firme:
no nosso canal do YouTube, contestamos com números e argumentos uma das
reportagens que alardeavam a crise(?) e mostramos a vitalidade do nosso
segmento, que passou por turbulências, mas segue firme e mais forte do que
nunca. Afinal, como diz o texto acima: a música é eterna!